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quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Palavramundo, como diz Paulo Freire


Maria Inês Barreto Netto

.........................................Pois nisto de criação literária cumpre não esquecer
........................................– guardada a infinita distância –
........................................que o mundo também foi criado por palavras.”
......................................................................................................................Mário Quintana

A escrita é uma ação cultural complexa, elaborada e desenvolvida pela humanidade no decorrer de séculos, em permanente constituição.

Em A pré-história da linguagem escrita, Vygotsky (1991) faz-nos refletir sobre a natureza simbólica da linguagem, mostrando os pontos importantes do seu desenvolvimento nas crianças que começa com o aparecimento do gesto como signo visual – “os gestos são a escrita no ar” – quando, por exemplo, elas fazem as garatujas e demonstram por gestos o que desenham, complementando-se em relação ao que querem representar.

Um ponto importante é a utilização de objetos substituindo e representando outros nas brincadeiras, pelas suas dramatizações gestuais – atividade representativa simbólica, brinquedo simbólico, brincadeira do faz-de-conta.

Outro é quando o desenho deixa de ser o objeto mesmo, ou parecido, ou, ainda, do mesmo tipo do objeto real para surgir o desenho que tem por base a linguagem verbal e contém os aspectos essenciais do que querem simbolizar, contam uma história. Mais tarde, a criança descobre que se pode desenhar a fala, não somente coisas e objetos.

Em resumo, para Vygotsky e seus colaboradores, “o brinquedo de faz-de-conta, o desenho e a escrita devem ser vistos como momentos diferentes de um processo essencialmente unificado de desenvolvimento da linguagem escrita” (1991, p. 131) e “seria natural transferir o ensino da escrita para a pré-escola” (p. 132), pois as crianças cedo descobrem a função simbólica da escrita. Na sua época, tal ensino, em países europeus e americanos começava, geralmente, aos seis anos de idade, e no seu, um pouco mais tarde. Mas esse ensino, para ele,

tem de ser organizado de forma que a leitura e a escrita se tornem necessárias às crianças. (...) A leitura e a escrita devem ser algo de que a criança necessite. Temos, aqui, o mais vívido exemplo de contradição básica que aparece no ensino da escrita (...); ou seja, a escrita é ensinada como uma habilidade motora e não como uma atividade cultural complexa. Portanto, ensinar a escrita nos anos pré-escolares impõe, necessariamente, uma segunda demanda: a escrita deve ser ‘relevante à vida’- da mesma forma que requeremos uma aritmética ‘relevante’.” (Vygotsky, 1991, p. 133; negritos meus)
Adam Schaff, estudando os trabalhos de Vygostsky, sintetiza a dimensão do trabalho educativo que se inicia na pré-escola:

o pensamento e a utilização da linguagem devem ser captados como dois aspectos de um único processo: o processo homogêneo do conhecimento do mundo pelo homem, da reflexão sobre o conhecimento (implicadamente, o conhecimento de si) e da comunicação dos seus resultados a outros indivíduos.” (Schaff, 1964, p. 209; grifos do autor)
Agora, podemos delinear possíveis situações de ensino-aprendizagem-desenvolvimento infantis.

Com o seu nome e os dos seus colegas, a criança participa de jogos de análise e identificação da ficha do nome; em pequenos grupos, joga o bingo dos nomes e das letras dos nomes; copia da ficha, faz listas de nomes dos alunos (coletivas) a partir de critérios estabelecidos pela turma e/ou pelo seu grupo...

Os rótulos e as embalagens de produtos usados na casa das crianças são meios para discussões a respeito dos usos e das funções dos seus conteúdos; para o estabelecimento de relações de semelhanças, diferenças, ordenações, classificações (coleções), quantificações etc.; para a dramatização do uso e das funções dos seus conteúdos; para a escrita da lista de compras, da lista dos que foram usados na dramatização, da lista das coleções, a escrita de títulos dados às coleções e dramatizações...

Muitos dos bilhetes que são enviados para os pais podem ser copiados do quadro na caderneta, principalmente pelas crianças do 3o. período. Por exemplo: a professora vai ao médico amanhã, trazer uma embalagem de um produto, levar para a escola uma muda de planta etc.

O desenho mimeografado da criança gera pequenos textos individuais e coletivos. A professora é a escrivã do texto ditado pela criança. O texto coletivo deve ser produzido pela metade da turma (dividindo o horário com a oficina). A outra metade faz outro trabalho com esse texto e vice-versa. Tais textos podem desdobrar-se em diversas atividades a serem realizadas durante a semana ou por algumas semanas. Pesquisas e/ou entrevistas podem ser feitas a partir do tema do texto, por exemplo, que se encadeiam com outros trabalhos. O texto pode ser dramatizado e os personagens elaborados na oficina. Um painel pode ser a ilustração coletiva do texto, confeccionado a partir das sobras de papel e de outros materiais, com planejamento e definição de tarefas para pequenos grupos. A produção de textos individuais pode ocorrer no segundo semestre.

O planejamento de certas atividades permite o registro dos nomes das crianças dos grupos com as respectivas tarefas, promovendo, inclusive o seu acompanhamento e a sua avaliação.

Referências bibliográficas
SCHAFF, A. Linguagem e conhecimento. Coimbra: Livraria Almedina, 1964. 297 p.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 168 p.