Maria Inês Barreto Netto
“O desenho fala,
chega mesmo a ser uma espécie de escritura,
uma caligrafia.”
Mário de Andrade
O desenho é a primeira escrita da criança. “O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como possibilidade de falar, marca o desenvolvimento da infância, porém, em cada estágio, o desenho assume um caráter próprio” (Moreira, s/d, p. 26).
A primeira etapa é um exercício de movimentos no material no qual a criança “rabisca” sem intenção alguma de representar qualquer coisa; é o controle, o domínio das mãos e do objeto usado para desenhar – são as garatujas. Movimentos longitudinais que “vão se arredondando, tornando-se circulares, se enovelando, se espiralando. Em seguida, esta espiral-novelo começa a se destacar e surgem os círculos soltos, ‘as bolinhas’” (ibid., p. 30).
Com as “bolinhas”, as garatujas começam a representar algo, começam a ganhar nomes – embora variem de acordo com o momento e com quem pergunta – e a se diferenciar no papel, mas ainda indiferentes à cor.
Aparecem, a seguir, as formas fechadas, com interior, desorganizadamente distribuídas no papel, porém com cores e formas diferentes. O desenho, agora, começa a ser um jogo, uma linguagem de representação e expressão.
A criança começa a contar histórias por meio do desenho. Não um enredo completo de uma história e, sim, aspectos significativos do que ela quer simbolizar. Não são formas realísticas. A criança não faz um “retrato” do que vê. A distribuição espacial na superfície de desenho do que ela quer simbolizar, portanto, não é regida, necessariamente, pela estruturação espacial da realidade. O desenho passa a ser uma maneira de falar. O desenho pode ser lido.
Nas interações sociais, a criança começa a elaborar as possibilidades de desenhar a fala também e percebe que para isso ela precisa usar formas diferentes. Vendo que se lê onde não existe o desenho característico, ela passa a prestar atenção nessas formas desenhadas. O desenho nessas formas diferentes – a escrita – simboliza uma outra linguagem.
O ato de desenhar, portanto, é fruto de uma criação pessoal, muito particular, na qual não cabem modelos ou comparações, nem ensino de formas e traços. “Nas crianças, o criar – que está em todo seu viver e agir – é uma tomada de contato com o mundo, em que a criança muda principalmente a si mesma” (ibid., p. 38). Então, a professora é a mediadora entre a criança e o mundo no espaço escolar para essa criação pelo desenho. A escola é o local onde a criança se apropria das “coisas do mundo” representando e expressando, promovendo o processo de aprendizagem-desenvolvimento da criança.
Referência bibliográfica
MOREIRA, A. A. A. O espaço do desenho: a educação do educador. São Paulo: Loyola, s/d. 128 p. (Coleção espaço, v. 4)
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Li!
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